Vivemos tempos difíceis, em meio a crises; protestos;
revisões de valores; discussões sobre (in) tolerância e diversidade;
temas que misturam alguns ingredientes comuns, dos quais quero destacar
três: “Ética”; “Política” e “Religião”. Em nossa sociedade, a política e
a religião apresentam um triste fator em comum: a descrença de que são
permeadas por conceitos “éticos”, próprios de um caráter nobre e sólido.
A
corrupção política, tão alardeada pelas CPIs vigentes, reflete a
distância que a ação humana se encontra do ideal, e, na verdade, não é
diferente das inúmeras distorções que há, em nossa sociedade, na prática
religiosa. Assim como há muitos maus exemplos de homens que exercem a
atividade política de forma inadequada, também, na prática cristã, há
muitos maus exemplos de homens que se dizem cristãos, mas não agem
segundo os ensinamentos de Cristo. Não são a política e a religião
“malignas” por natureza, mas, é a prática humana que tem revelado muitas
falhas e más intenções.
“Ai
dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas, luz e da
luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo. Ai dos que são sábios
aos seus próprios olhos e inteligentes em sua própria opinião. Ai dos
que são campeões em beber vinho e mestres em misturar bebidas, dos que
por suborno absolvem o culpado, mas negam justiça ao inocente. Por isso,
assim como a palha é consumida pelo fogo e o restolho é devorado pelas
chamas, assim também as suas raízes apodrecerão e as suas flores, como
pó, serão levadas pelo vento; pois rejeitaram a lei do Senhor dos
Exércitos, desprezaram a palavra do Santo de Israel.” (Isaías 5:20-24 NVI)
A
escritura acima revela o descontentamento de Deus com o seu povo,
sobretudo com os líderes e profetas, por se afastarem dos seus preceitos
e desenvolverem a sua própria “doutrina”, com conceitos éticos e morais
antagônicos às Leis do Criador. Desde o tempo de Samuel, as autoridades
de Israel pediram ao profeta que nomeasse um rei para governá-los, em
semelhança às demais nações (1 Samuel 8:5), mostrando que a sua visão
estava mais voltada para o mundo e que a sua confiança era depositada em
homens. No entanto, o provérbio nos alerta sobre o julgamento humano:
“Todos os caminhos do homem lhe parecem puros, mas o Senhor avalia o espírito.” (Provérbios 16:2 NVI)
O
ser humano, longe de Deus, não tem capacidade de discernir e
estabelecer a justiça perfeita, não é capaz de governar nem a sua
própria vida e nem a de outros com plena correção; acaba por perverter a
justiça (Amós 5:7 - Romanos 3:10-12), chamando “o mal de bem” e fazendo
“das trevas, luz”; sendo assim, é difícil pensar em um líder, seja na
igreja, em uma empresa ou no Estado, que possa governar com justiça e
ética, se não estiver submisso ao Senhor. O desejo de Deus é que todos
vivam sob a sua luz, praticando a sua justiça, independente da posição
ou situação em que se encontre.
“Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” (Mateus 6:10)
Quando
Jesus ensinou o povo judeu, falou-lhes sobre como orar; não com a
intenção de lhes ensinar as palavras certas, mas, sim, o coração correto
(valores). Na “oração ideal”, a pessoa que ora deve ter desejos puros,
livres de “adequações mundanas”; como de alguém que enxerga o mundo e as
pessoas necessitados da justiça de Deus, e não de bens ou condições
materiais para “melhorar de vida”. O desejo do homem e da mulher de Deus
deve ser o de ver a justiça divina acontecendo “aqui na terra, como no
céu”, ou seja, de abster-se dos seus próprios valores e anseios para
viver e disseminar a vontade do Senhor.
"O
senhor respondeu: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco;
eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!
’” (Mateus 25:21)
Deus
se alegra quando os seus servos são fiéis, procurando agir corretamente
aos seus olhos, administrando as suas capacidades (dons de Deus) na
direção dos planos por Ele estabelecidos. A igreja de Deus, que tem
Cristo como a cabeça e os seguidores como o corpo (Colossenses 1:18),
deve ser o exemplo de organismo para esse mundo. Em todas as áreas, para
todas as funções específicas que se possa ter nessa sociedade, deve
haver homens e mulheres capazes de brilhar a luz de Cristo (Mateus
5:16).
No AT há inúmeros
exemplos de reis, profetas e sacerdotes que honraram o seu dom e missão,
tais como: Josué (Josué 24:31); Davi (1 Reis 3:6) e Joiada (2 Crônicas
24:2); como há, também, outros tantos que desprezaram a sabedoria do
Altíssimo. No NT, Jesus ensinou sobre os talentos (Lucas 19:12-26); além
disso, respondeu a Pilatos diante do seu julgamento: “Não terias
nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima (...)”
(João 19:11¹); e Paulo escreveu aos romanos: “Todos devem sujeitar-se às
autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de
Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas” (Romanos
13:1); tais passagens fazem emergir ao menos duas conclusões,
rapidamente: 1) Deus é soberano e estabelece, segundo os seus
propósitos, os governantes; 2) Cada um recebe atribuições e dons, e deve
exercer o seu papel da melhor forma, segundo o padrão divino. Hora, se
alguém recebe o dom e a oportunidade de governar sobre os outros será
que ele não tem a chance de ser ético e exercer a sua missão com
probidade?
Dessa forma,
parece razoável afirmar que o homem e a mulher de Deus devem influenciar
a sociedade, ao mesmo tempo em que não podem ser por ela influenciados
(Provérbios 25:26), independente da sua “função” ou atividade. A
religião ou, como prefiro, o estilo de vida cristão, deve estar presente
em tudo, sem ser, pelo mundo e sua pretensa sabedoria, corrompido.
“Tudo
o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para
os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a
Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo.” (Colossenses 3:23-24)
Guto Maraday
FONTE:http://www.icoc.org.br
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