À
esta altura,
não temos mais papa. Saiu fugindo? De jeito nenhum! Em última
crônica escrevi que admirava o teólogo, mas não o papa.
Hoje se
ameniza minha negativa, desfaz-se tornando-se em admiração. Em
sua honestidade cai a ambiguidade entre Bento XVI e Ratzinger.
Foi-lhe tarefa extremamente pesada. Quando escolhido como papa,
topou, consta que não queria.
Santos acreditam que Deus nos impõe
fardos ao porte dos ombros, como dizia o teólogo Adoniram Barbosa:
Deus nos dá o frio
conforme o cobertor.
Não é bem assim.
Uma boa vontade tem que sempre se fundamentar em
uma fé discernida. Coragem de ser e de aceitar, alicerça-se em
humildade e na inadvertida confiança de Deus dos que lhe dizem:
vai lá José, se
necessário Deus segura as pontas. Bento
XVI fez possível, seguramente o papa mais culto da história dos
papas. Não basta ser culto para ser papa. Erro que o escolheram.
Jesus definiu a primordial missão de Pedro: fortalece
a fé de seus irmãos Lucas
22,32 , não
necessariamente esclarecer as mentes, mas firmar seus corações.
Missão de pai não é ensinar, quem educa são todos os homens na
mediação do mundo. Dever de pai e acolher os filhos, a auscultar a
voz dos tristes, fracos, doentes, desviados. Essa é a voz do
Espírito de Deus que sopra e anima a família da Igreja. Por isso,
louvo e amo a coragem de
um papa que dá lugar a outro, mais
forte que ele para
topar a pegar o último lugar da Igreja, sem palavras e de figuras,
na urgente tarefa de transformar radicalmente a face da Igreja.
Sem dúvida, hoje a Igreja
singra em águas
tumultuosas – na
expressão dele, parece que faz água a barca de Pedro, no fundo
Jesus dormindo sem sonhos e pesadelos, tranquilo. Dorme e vela,
mistérios, enquanto homens trabalham e lutam que navegar
é preciso, à
coragem dos homens
da Igreja.
Ratzinger teve medo, sim. Inteligente e culto,
desmoronou-se, pequeno diante dos problemas da Igreja que hoje
estouram aqui e lá, mar de lama a passar nos subterrâneos do
Vaticano. Entristece-se o coração de um pai, pobre, fraco.
Fico triste
especialmente diante de noticias sobre padres, bispos, cardeal a
garantir a geral lei da fraqueza humana: padre
é um homem, fraco!
Claro, todo homem gosta de mulher, inscreve-se em sua vocação
desde os tempos da criação. Quando falta mulher a que se
renunciou, vale tudo? Vale refugiando-se em álibi na fraqueza
humana? Não é do homem, muito menos do padre, a fraqueza da
desordem em sexo.
O celibato não pode enxovalhar a santidade do
casamento. Minha pessoal experiência garante: como padre,
guardei a inteira castidade de um homem total. Quis todas as
mulheres do mundo e a todas renunciei. Ao casar, entreguei-me a uma,
renunciando a todas as demais. Fico triste e muito, mas não cai um
fiapo de minha fé pela Igreja de Jesus.
Que é a Igreja, o
Vaticano? Não! Infelizmente é a casa do papa. Está na hora de
sair dela e fechar o museu, lindo e funesto tempo em que os papas
eram reis, donos do mundo quando prevaricavam padres, cardeais, até
mesmo alguns papas gerando bastardos. Passou-se esse tempo, graças a
Deus. Amo todos os papas que conheci, a meu ver, santos a curtir
pobreza e continência aprisionados no Vaticano. Está na hora de se
limpar os entulhos do passado que desfiguram a Igreja de Deus. O
Vaticano não é o chão da Igreja. Jesus a destruir o templo de
Jerusalém não pela força e pelo poder que nunca teve, assolou
todas as tentações de poderio: meu
reino não é deste mundo. Triste
reino de Deus, o Vaticano que sedia o
servo dos servos
cercado de luxo e de tesouros. O pobre dinheiro da comunidade de
Jesus era guardado pelo cardeal Judas para comprar comidas, naquele
tempo já alguém roubava sua parte, na cara de Jesus. Impassível.
Imensa a tarefa do novo papa a
transformar a Igreja de Jesus. Sozinho, no peito e na raça, não vai
conseguir nada. A ele congraçar e animar os corações que amam a
Igreja a que se faça a luz. O site croire.com
escreveu em editorial no dia em que o papa saiu: “
imensas dificuldades da carga que incumbe o papa emérito, ele
continuará a
suportar na oração”.
Pedindo o quê? Que
corações se convertem? Pedir a Jesus que se acorde dormindo no
fundo da barca a serenar tempestades? Longe de medo e tristes,
guardemos a misteriosa certeza de Jesus: tenhais
a paz (...). eu venci o mundo
João 16,33.
Novo dia para a Igreja: tão
longa a esperança, tão curta a vida.
Autor: Augusto Chiavegato.
FONTE: Enviado por email by Adriano Chiavegato.
Belas palavras de meu querido pai...
ResponderExcluir