“Mas a serpente, mais
sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito,
disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda
árvore do jardim? Respondeu-se a mulher: Do fruto das árvores do
jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do
jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que
não morrais. Então a serpente disse à mulher: É certo que não
morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comeres se vos
abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.
Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos
olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto
e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu” (Gênesis 3.1-6).
Podemos comparar a
primeira tentação como o “andar na prancha de um navio pirata”:
ao dar o último passo, a pessoa cai no mar e afunda para sempre.
A tentação de Eva por
Satanás por ser conceitualizada em 5 passos. Passos que
podemos ver na tentação de Satanás aos crentes de nossos dias.
1º
PASSO – MAXIMIZAR A RESTRIÇÃO
Encontra-se no primeiro
versículo. O hebraico pode ser parafraseado da seguinte forma: “Ora,
a serpente era mais matreira, astuta, do que qualquer criatura
selvagem que o Senhor Deus tinha criado. Ela disse à mulher: É
verdade que Deus proibiu vocês de comer de todas
as árvores do jardim?”.
Qual é a dinâmica desta
passagem? Por que o Diabo fez tal pergunta? Obviamente ele sabia o
que Deus havia dito a Adão e Eva, do contrário ele não poderia ter
feito uma pergunta dessas. Além do mais, deliberadamente ele
distorceu o que Deus havia dito: “É verdade que Deus proibiu vocês
de comer de todas as
árvores do jardim?”. O ardil do diabo era óbvio: ele queria que
Eva desviasse os olhos das coisas que Deus lhe havia dado para
desfrutar, e os concentrasse na única coisa que Deus havia proibido.
Com toda a probabilidade havia mil coisas agradáveis que Eva poderia
ter feito no jardim, mas agora toda a sua atenção se concentrava na
única coisa que ela não podia fazer. A este passo podemos chamar de
maximizar a restrição (focar a coisa errada).
2º PASSO –
MINIMIZAR AS CONSEQUÊNCIAS
Eva estava preparada para
o próximo passo do Diabo. Em resposta à declaração de Eva de que
Deus disse que o comer do fruto da árvore resultaria em morte, O
Diabo declarou com atrevimento: “É certo que
não morrereis”. Os resultados de tal ação realmente não
seriam tão maus conforme Deus havia dito. A isto podemos chamar de
minimizar as conseqüências do pecado. De dois modos o Diabo
minimizou tais conseqüências:
- 1º) dizendo a
Eva que as conseqüências do pecado não seriam tão más como foram
declaradas; e,
- 2º) finalmente
concentrando a atenção da mulher sobre a árvore, de modo tão
completo, que ela se esqueceu inteiramente das conseqüências (v.
6).
3º PASSO – DAR NOVO
ROTULO À AÇÃO
O terceiro passo que o
Diabo deu, podia chamar-se de dar novo rótulo à ação. No
versículo 5 ele diz: “Porque Deus sabe que
no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus,
sereis conhecedores do bem e do mal.” Aqui o Diabo lançou a
suspeita na mente de Eva, de que, não que o fruto da árvore fizesse
mal a ela que Deus havia proibido comê-lo, mas porque ele não
desejava que ela fosse igual a ele.
O Diabo foi hábil em
tentar remover sua tentação da categoria de pecado, dando-lhe um
novo rótulo. Neste caso particular, o comer do fruto foi
rer-rotulado como um modo de ampliar a consciência, o conhecimento
de Eva. Ela se tornaria uma pessoa mais completa se o experimentasse.
Antes disto Eva havia pensado no ato como desobediência: agora ela o
vê como uma necessidade, se quiser tornar-se uma pessoa completa e
madura.
4º PASSO – MISTURAR
O BEM COM O MAL
O Diabo não perdeu um
instante sequer para acrescentar outro aspecto à sua tentação,
aspecto que se pode chamar de misturar o bem com o mal. O versículo
6 dia: “Vendo a mulher que a árvore era
agradável...” A isto poderíamos, também, dar o nome de
misturar o pecado com a beleza. A
tentação muitas vezes vem na forma de algo belo, algo que apela
para nossos sentidos e desejos. Com freqüência é necessário
pensar duas vezes antes de percebermos que um objeto ou um alvo belo
na realidade é um pecado disfarçado. Neste incidente Eva falhou em
discriminar entre o bonito pacote e seu conteúdo pecaminoso.
5º PASSO – MÁ
INTERPRETAÇÃO DAS IMPLICAÇÕES
Finalmente Eva deu o
último passo na prancha com destino ao fundo do mar: a narrativa diz
que ela viu “que a árvore era... desejável
para dar entendimento”. Em essência, ela engoliu a mentira
do diabo. Este passo pode denominar-se: “má interpretação das
implicações”. Com efeito, ao aceitar a declaração do Diabo, Eva
estava chamando a Deus de mentiroso, muito embora ela não tivesse
percebido tais implicações. Ela aceitou o Diabo como verdadeiro e a
Deus como mentiroso: ao comer do fruto ela estava implicitamente
afirmando sua crença em que o Diabo, estava mais interessado no
bem-estar dela do que Deus. O render-se à tentação implicava que
ele aceitava a análise do Diabo concernente à situação e não a
de Deus.
CONCLUSÃO
Muitas das mesmas dinâmicas da tentação de Eva estão presentes em algumas das tentações com que o Diabo ataca o crente hoje. Com apenas ligeira introspecção, podemos encontrar, com freqüência, suas táticas de:
- Maximizar as
restrições;
- Minimizar as
conseqüências;
- Dar novo rótulo à
ação; e,
- Misturar o bem com o
mal (ou, misturar o pecado com a beleza).
Hermenêutica: Princípios
e Processos de Interpretação Bíblica, de Henry A. Virkler, Editora
Vida, Capítulo 8 (levemente adaptado).
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