Texto
Base: João 3. 1-7; 4. 5-15; e
4. 31-34:
A Renovação do entendimento: Valores Espirituais x Valores Humanos. É
interessante notar os mal-entendidos que cercam os diálogos entre
Jesus e Nicodemos, entre Jesus e a mulher samaritana e, por último,
entre Jesus e seus discípulos. Esses personagens não compreendiam o
Mestre. Por isso, Nicodemos fica confuso quando Cristo lhe fala em
“nascer de novo”; a mulher samaritana pede a “água viva” só
para não ter mais que fazer o esforço de ir tirar água do poço; e
os discípulos ficam se perguntando sobre o que Jesus comera, quando,
na verdade, Ele se referia à alimentação espiritual. Nesses três
casos, a Palavra de Deus referindo-se a verdades espirituais e o ser
humano tentando interpretar conforme a ótica humana.
Nós
podemos conhecer a Jesus e estar com Jesus, contudo, não compreender
a verdade do Evangelho por estar presos à ótica humana e aos
valores do mundo. Por que encontramos pessoas que, apesar de estarem
há bastante tempo na igreja, ainda são como bebês na fé (não
alcançam maturidade espiritual) e dão mau testemunho
permanentemente? Ou simplesmente querem bênçãos materiais de Deus
e, quando não têm nada para pedir, ficam “sem assunto” na
oração?
A
resposta é que há pessoas que estão interpretando o Evangelho, a
mensagem de Cristo, de acordo com o modo de pensar do homem natural.
Em Provérbios 23.7, lemos que “como o homem imagina em sua alma,
assim ele é”. Ou seja, nós somos e agimos de acordo com aquilo em
que acreditamos. São valores que temos dentro de nós e que nos
influenciam nas decisões que tomamos e na forma como vemos o mundo e
a vida.
Para
a Bíblia, há duas categorias de valores: a espiritual, que é a do
Evangelho e que foi pregada por Cristo; e a carnal, que é o modo de
pensar deste mundo. Nós lemos isso em Efésios 2.1-10: que há um
grupo de pessoas, aquelas que não estão em Cristo, que andam
“segundo o curso deste mundo” (que é controlado por Satanás,
príncipe das potestades do ar e espírito que opera nos filhos da
desobediência), fazendo “a vontade da carne e dos pensamentos”.
Por outro lado, o versículo 10 mostra que nós, que fomos salvos
pela fé
em
Cristo, saímos daquela condição: “Pois foi Deus quem nos fez o
que somos agora; em nossa união com Cristo Jesus, ele nos criou para
que fizéssemos as boas obras que ele já havia preparado para
nós.”(NVI)
O
risco ao qual devemos prestar atenção é o de, se dizendo
convertidos, vivermos de acordo com os valores do mundo, “segundo o
curso deste mundo”. Em Romanos 12.2 temos a advertência que nós
não podemos assumir a forma deste mundo (ou seja, pensar de acordo
com ele), mas devemos nos transformar pela renovação do nosso
entendimento.
Obs.:
é interessante notar aqui que a palavra que Paulo usou para dizer
“transformai-vos”, no grego, está relacionada àquela usada para
falar da transfiguração de Jesus nos Evangelhos. A palavra é
“metamorphoo”, da qual temos, no português, “metamorfose”.
Ou seja, devemos passar por uma metamorfose do carnal para o
espiritual, da natureza humana para a natureza divina; nós é que
realizamos a ação de renovar nosso entendimento; a palavra “mente”
no original grego inclui “as faculdades de perceber e entender, bem
como a habilidade de sentir, julgar, determinar”. É isso que tem
que ser renovado em nós e que não pode se amoldar aos padrões
mundanos; essa renovação do entendimento é requisito para que
experimentemos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Outra
advertência nesse sentido é a de Colossenses 2.6-8: temos de nos
manter em Cristo e não nos deixar ser enganados por doutrinas que
trazem consigo a “tradição dos homens” e os “rudimentos do
mundo”. Da mesma forma, se estivermos vivendo segundo os valores
deste mundo, podemos cair no que Paulo descreve em 2 Timóteo 2.3 e
4, distorcendo o Evangelho de acordo com a nossa própria maneira de
pensar – heresia.
Vejamos,
então, alguns valores mundanos que têm marcado o modo de as pessoas
pensarem atualmente e que tentam invadir nossa mente para nos
distanciar da verdade. O sistema filosófico predominante hoje é o
humanismo, a ética humanística, que coloca o homem como o centro de
todas as coisas. O pensamento de que “o homem é a medida de todas
as coisas” expressa bem tal raciocínio.
Hedonismo - o
certo é aquilo que é agradável, aquilo que dá prazer. Para ter
uma vida cheia de sentido e significado, cada pessoa deve buscar
aquilo que lhe dá prazer e felicidade. Quando isso entra na nossa
mente, começamos a discordar da Bíblia quando ela diz que “temos
de nos alegrar na tribulação”, perdemos o senso de que somos
peregrinos e forasteiros neste mundo, passamos a procurar a amizade
do mundo (e Tiago disse que ela é inimiga de Deus), vivemos um
Evangelho chocho, opaco, muito diferente daquele que Jesus disse que
nos traria rejeição e perseguição. Jesus não nos deu esperanças
de ter prazer pessoal ao segui-lo. “Se o mundo me rejeitou, ele
também os rejeitará”, disse. Seguir a Cristo é negar-se a si
mesmo e declará-lo Senhor. Hedonismo é afirmar-se a si mesmo, como
centro e merecedor de todo prazer.
Esse
raciocínio tem invadido a igreja: muita gente tem tratado a
congregação como lugar de satisfação individual – se não dá
prazer, é só mudar. Os cultos, então, têm de ser shows, mexer com
as emoções do público. E por não identificar que está com valor
errado dentro de si, a pessoa chama o sentir-se bem emocionalmente de
“sentir a presença de Deus”. Além dessas constatações, cabe
espaço para a pergunta: onde se encaixa nesse raciocínio a noção
de ser servo, de que Jesus tanto falou? A busca pelo agradável
desdobra-se no individualismo e no materialismo, com suas consequências negativas e antibíblicas.
Pluralismo
ou relativismo - Há
várias formas de pensar e de ver o mundo. Não existe uma verdade
absoluta. “Ninguém é dono da verdade”, costuma-se dizer. Cada
um tem a sua verdade e ninguém tem nada com isso, temos é que
tolerar. Há, sim, uma verdade absoluta: Jesus e sua Palavra. Ele é
“o caminho, a verdade e a vida.” O relativismo e a tolerância
pregada pelo pluralismo é um golpe à missão profética da igreja
no mundo e justifica distorções gritantes da verdade espiritual.
Conclusão - Temos
de rever os valores sobre os que estamos conduzindo nossas vidas.
Como escreveu Luiz Sayão, “não posso fazer alguma coisa só
porque todo mundo faz”. Devemos viver segundo os valores cristãos.
E eles são absolutamente opostos aos aceitos por este mundo que jaz
no maligno.
Kelli
Gospel
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