Eu tenho imenso carinho pelas pessoas boas. Falo daquelas pessoas que buscam uma vida moral correta e têm disposição e disponibilidade de abençoar outros. Claro que existem também os religiosos arrogantes que têm aparência de bondade, mas levam uma vida hipócrita e andam com o dedo em riste. Não são a estes que me refiro neste texto, deles falarei em outro momento se o Senhor assim desejar. O que interessa neste momento são as pessoas coerentes e corretas. Eu conheço vários que são absolutamente verdadeiros em sua busca por correção moral, compromisso espiritual e serviço ao próximo e aprecio muito sua companhia e amizade. Eu me identifico com eles na busca pelo bem, no desejo de correção ética, na sinceridade da prática de sua fé.
Mas, por paradoxal que pareça, esta bondade também me preocupa. Isto porque o traço de personalidade que faz com que produzamos boas coisas é o mesmo que nos afasta da graça do evangelho de Cristo. Sim, a bondade que nos leva a tão boas práticas é a mesma que nos deixa sutilmente distantes de tomarmos consciência da necessidade de um Salvador.
Eu senti na pele esta situação. Sempre fui um bom pai, um filho dedicado, um esposo apaixonado, um profissional correto. Minha mão nunca esteve retida para abençoar, para ajudar pessoas em suas necessidades e me solidarizar com os sofrimentos do próximo. Além disso, me tornei membro de uma igreja evangélica, “aceitei Jesus” e me envolvi na EBD, trabalhava no estacionamento, servia no apoio aos novos convertidos. Não existia trabalho que fosse vergonhoso ou menos nobre para mim, parafraseando Paulo eu poderia dizer que era irrepreensível quanto à justiça do viver na fé.
Dentro desta perspectiva qual a necessidade de se ter um Salvador?
Eu acreditava que Jesus morreu para nos salvar e que eu necessitava de um salvador, mas esta fé falava ao meu intelecto, não às minhas entranhas. Dizia respeito à minha sensibilidade, mas não à experiência real de me confrontar com meus próprios pecados. Era algo muito bonito e com aparência de sabedoria, mas faltava substância, faltava rasgar o coração, faltava o confronto, faltava a vergonha de me enxergar nu, sem as folhas da figueira da justiça própria para esconder minhas vergonhas.
Um dia Deus, em sua infinita misericórdia, tirou as escamas dos meus olhos e eu finalmente pude me ver. Foi a partir daí tornou-se possível caminhar na dimensão do sobrenatural de Deus e vivenciar coisas que eram impensáveis para mim. Passei a andar em arrependimento, a viver pela misericórdia e estender esta misericórdia para outros. Perdoar se tornou muito mais fácil, pois encontrei perdão. Comunhão com o Senhor passou a ser o caminho natural de todo o dia, o dia todo.
Continuo buscando viver em bondade e cultivar este aspecto do fruto do Espírito em minha vida, mas hoje tudo isto tomou outra dimensão. Hoje eu sei que a bondade que porventura eu praticar não me faz melhor que os outros, nem mais recomendável à salvação. É apenas expressão da graça do Senhor, pois vem Dele, e não de mim ou do meu caráter, tanto o querer quanto o praticar. Não há mérito meu, posto que se desejo praticar o bem é porque este desejo veio do Senhor e se consigo praticar o bem é porque a capacitação também veio do Senhor.
A minha bondade ao mesmo tempo em que me aproximou de uma vida que agradava a Deus, também me afastava de um encontro visceral com Ele. E esta mesma armadilha tem afastado muitos, sejam evangélicos, católicos ou espíritas, deste encontro tão inefável que seria pretensioso e desonesto tentar expressar este infinito que sinto nas palavras finitas deste texto.
Talvez você seja como eu, alguém confiável, correto, que busca a ética e abençoar todos. Que anda em humildade e modéstia. Mas, ao mesmo tempo todas estas qualidades, podem estar lhe roubando, como roubou de mim durante muito tempo, o que há de mais valioso.
O jovem rico foi muito amado por Jesus, cumpria os mandamentos, mas não conseguiu dar o salto de fé: enxergar suas próprias vilanias. E, assim como ele, com tantas qualidades não conseguiu entregar-se totalmente a Jesus apesar de estar tão perto Dele, talvez você, assim como eu um dia, também esteja perto de Cristo, mas longe de experimentar a vida abundante que Ele promete.
Dê este salto de fé, deixe Deus lhe desnudar, confrontar e fazer com que você verdadeiramente encontre a graça que se revelou em Jesus. Sua vida nunca mais será a mesma depois deste encontro.
Pr. Denilson Torres
FONTE: Ministério Fruto do Espírito - www.frutodoespirito.com.br
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